segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Montanhas ou planícies?




Desejo limitar-me a um pequeno acontecimento para classificar 2 tipos de pessoas que acabei descobrindo enquanto viajava. Há 2 tipos básicos de pessoas: as pessoas planícies e as pessoas montanhas. Estranho né!? Logo de início, se eu fosse perguntar para você com qual nome você se identificaria mais, o que me diria? Bem, vou falar um pouco a respeito do que notei em uma singela experiência particular.
As pessoas montanhas são aquelas que não gostam de enxergar muito longe, fazer planos a longo prazo, correr, pois veneram a sensação de enxergar o que seus olhos podem ver detalhadamente, são pessoas cautelosas e na maioria das vezes sentem-se “protegidas” quando envolvidas pelas montanhas ao seu redor. Este tipo de pessoa possui muitas qualidades como por exemplo a análise racional e enfática de tudo a sua volta, o famoso chamado “pé no chão”. Possuem também defeitos como o trancamento no seu próprio mundo protegido pelas muralhas que as cercam e preferem ficar ali, no seu ambiente de segurança, onde nada consegue alcançá-las.
Já pessoas planícies são aquelas que reverenciam a linda vista multicolorida do largo horizonte a sua frente, deixando assim alguns detalhes de coisas próximas desapercebidos. Pessoas assim costumam sonhar, sonhos além do “alcance da mão” e dentre as qualidades podemos citar vontade inerente de voar em quaisquer circunstâncias, uma fé que nem sempre se consegue explicar. Já um de seus defeitos é correr olhando para o horizonte, esquecendo-se das pedras no meio do caminho, tropeçando e caindo muitas vezes, mas sempre levantando-se e correndo novamente em direção ao horizonte.
Então volto a te perguntar, meu caro leitor, você é uma pessoa montanha ou planície?

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Uma história de arrependimento



                Durante aquela longa madrugada o galo finalmente cantara. Trazia consigo uma nostalgia embebida de sentimentos ásperos e gélidos de uma triste solidão. Lá no canto, isolado, podia-se notar um homem choroso como uma criança que inconsoladamente e desesperadamente quer algo que não pode ter. Chorava e chorava e chorava o remorso de descobrir que tudo foi uma farsa, que havia sido enganado, entretanto algo ainda pior do que os sentimentos de deslealdade lhe tomavam o peito: a agonia de saber que havia sido enganado por si mesmo, pelo seu coração traidor.
            No peito uma dor insistentemente irremediável. A cabeça a mil já não mais conseguia pensar em nada relevante e ainda carregava o fardo de saber que aquilo tudo ainda não pararia por ali, aquela longa madrugada em aceso se prolongaria numa dolorosa manhã em que mundo jamais esqueceria.
            Pedro via-se contrariado por si mesmo, numa mistura de remorso e arrependimento: “O Mestre previu que eu o negaria e ainda sim não me odiou, como isto é possível?”. Os pensamentos de quem andou 3 anos com o Eterno encarnado e continuava sem conhecê-lo eram intensos, e Pedro notou que eram verdadeiros. Ainda sim, a pior tortura de todas foi imaginar que não mais conversaria com Ele, mesmo o Mestre tendo avisado que voltaria, e assistir a toda aquela dor de camarote. Com as mãos atadas aquele pescador grosseirão via-se completamente impotente.
            Após alguns dias o velho homem deprimido decidira voltar a pescar. Mas por quê? Há tanto tempo ele havia largado aquela prática, deixado para trás os afazeres do velho homem para finalmente ser alguém novo. Finalmente começara a perceber que não era tão diferente quanto pensava, finalmente deixara de acreditar no seu coração.
            Alguns discípulos se compadecendo da dor do companheiro embarcaram juntos, e passaram aquela noite frustrante sem um único peixinho até que um homem encapuzado chega e manda que lancem a rede do lado direito. Sem reconhecê-lo, os teimosos pescadores começaram a murmurar e dizer o quão ruim a noite havia sido, mas que mal há em apenas mais uma tentativa? Lançaram a rede e não conseguiram puxá-la de volta, 153 peixes foi o prêmio total pela obediência naquela ocasião.
            Reconheceram o Mestre todos que ali estavam, mas não Pedro. Pedro enxergava muito mais do que apenas o Mestre em carne e osso e Espírito, enxergava redenção para todo aquele acúmulo de dor silencioso, uma oportunidade de extravasar e colocar tudo para fora. Pedro enxergava arrependimento em si mesmo, finalmente percebera que todos aqueles anos seguindo a Jesus não o fizera conhecer tanto quanto o fato de tê-lo negado e se arrependido, começara a compreender que a graça de Cristo significa o tal do “favor imerecido”.
            Com seu coração ardente, mais do que qualquer outra pessoa no mundo, Pedro coloca sua roupa e não aguenta de tanta felicidade e ansiedade para conversar com Jesus, se atira ao mar antes mesmo que o barco atracasse na costa e corre loucamente ao seu encontro. Jesus o esperava com alguns pães e peixes, e Pedro finalmente percebera que o Eterno vem ao nosso encontro onde nós estivermos, ainda que com as práticas do antigo homem novamente, nos resgata de toda a dor e solidão, e ainda prepara um banquete.
            Então feliz, Pedro percebe que Jesus o havia encontrado, não o contrário.
Assim acontece com muitos até hoje, percebem que Deus é quem nos encontra e nos resgata.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Esconderijo





Sempre há um momento em que nos inunda a vontade de deitar em nosso cantinho em posição fetal, como se de alguma forma estivéssemos novamente protegidos pelo ventre que outrora nos envolveu, e sumir dentro do nosso esconderijo. Sumir como se não existíssemos mais. Não mais. Por alguns segundos, horas, talvez até dias. Voltar ao tempo em que o juízo de valor não nos afetava, de nos escondermos de tudo que nos incomoda, de nos escondermos principalmente dos nossos sentimentos, de nós mesmos. Simplesmente ficar ali, esperando esquecer todo o mundo e o esquecimento do mundo todo. Como se fosse o melhor lugar do mundo. E então é parar, pensar e seguir na impossibilidade da constância eterna. Subimos e descemos nesta montanha russa, inconformados com o movimento do curso das circunstâncias. A sede do novo faz-se perceptível e crescente.

E hoje a minha oração é que Deus seja o meu melhor lugar do mundo, o meu esconderijo, e que me faça novamente renascer.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O Ponto


Ultimamente tenho parado muito pouco pra escrever, mas ando pensando em muitas coisas. E cheguei à conclusão de que hoje se me perguntarem quem é Deus na minha vida eu responderia que Ele é O Ponto! Não somente um ponto, mas O Ponto:
O Ponto de partida
O Ponto de chegada
O Ponto de referência
O Ponto de equilíbrio
O Ponto de mudança
O Ponto de descanso
O Ponto de inserção
O Ponto de escape
O Ponto de interseção
O Ponto de singularidade
O Ponto de alicerce
E a minha oração é que Deus continue sendo O Ponto central da minha vida.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

A glória do cair




Muita coisa tem mudado em minha vida nos últimos dias, e tenho pensado bastante no “deserto” como uma coisa muito boa na vida de qualquer pessoa, é lógico que não estou dizendo que ninguém gosta de estar ou passar pelo “deserto”, mas se pensarmos direitinho foi no deserto onde Deus realizou os maiores milagres já vistos, ou alguém não considera uma coluna de fogo durante a noite e uma nuvem durante o dia uma grande coisa? Alguém não considera o maná que caia do céu, as codornas que Deus enviava ao seu povo ou até mesmo água que saía de rochas uma grande coisa?

Tenho enxergado o deserto como a curva de subida no “gráfico” da nossa vida espiritual. “– Tá louco, filho?”. Já ouvi isso (rsrs)! A verdade é que nós desenvolvemos forçadamente uma sensibilidade inata ao entrar no deserto, ou ao cair e pecarmos com uma coisa que achávamos que nunca iria acontecer, não conosco!

Vou explicar melhor, sendo bastante simples desta vez: os piores momentos e as piores fases são onde mais buscamos a Deus e desenvolvemos uma relação de mais intimidade e sensibilidade ao Espírito Santo, e aí chegamos ao título do texto, conhecemos a glória do cair!

Mas que glória há em cair? Aparentemente nenhuma! Não há glória em cair quando não se levanta. Lembro que certa vez eu li em algum lugar: “Hoje eu acordei perguntando a Deus o por que de ter tantos defeitos, e Deus me respondeu que se eu não tivesse defeitos seria auto-suficiente”, é aí que reside a glória do cair!

O cair se converte em glória quando nossos defeitos são moldados por Aquele quem nos criou. O cair se converte em sensibilidade quando buscamos a Deus incessantemente para nos aperfeiçoarmos. O cair se converte em maturidade quando dele tiramos boas lições. O cair se converte em experiências a serem compartilhadas para que outros não precisem cair também.

Então percebemos que de glória em glória somos transformados pelo Espírito do Senhor (2 Coríntios 3.18), pois o Seu poder se aperfeiçoa na minha fraqueza (2 Coríntios 12. 9) e a glória do cair reside no arrependimento e na dependência de Deus.

Não quero contudo ser radical e dizer que cair é necessário para que todas estas coisas aconteçam, mas o fato é que é inevitável durante a caminhada, pois cair é um ACIDENTE DE PERCURSO, não deve NUNCA ser uma ESCOLHA! Mas ainda quando é uma escolha, Deus se compadece de nós e tem misericórdia, pois as suas misericórdias se renovam a cada dia (Lamentações 3: 21-22)



Portanto a dica é que saibamos lidar com as quedas para tirar boas lições e nos tornarmos mais sensíveis, arrependidos e dependentes de Deus ao invés de ficarmos nos martirizando por isso ou aquilo que cometemos.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Amizades




           A amizade verdadeira continua sendo um dos bens mais preciosos a serem cultivados! Mais valiosa que muitas riquezas, mais valiosa que muitos momentos, mais valiosa do que quase tudo que se possa imaginar. Sei que existem milhares de textos e poesias que falam a respeito da amizade, e muito provavelmente nada que eu expresse seja novidade, reconheço minhas limitações, no entanto escrevo porque não posso deixar de expressar os sentimentos que possuo a respeito deste assunto por acreditar que possuo os melhores amigos que alguém poderia ter!
            Cultivar uma amizade é chorar com quem chora, se alegrar com quem canta, fazer poesia dos momentos mais bizarros já vividos. É a intimidade de adentrar no âmago da convivência sem deixar com que os defeitos do outro superem suas qualidades. É descobrir os pensamentos através de um simples olhar. É conversar telepaticamente. É construir uma ponte que nos leva ao universo alheio. É rir das manias, estranhices, mimações, e até mesmo das situações embaraçosas. É abraçar quando o mundo parece desabar e deixar que saibam que mesmo que o mundo desabe, o peso será divido em partes iguais. É ir na padaria comprar o pão juntos só para passar um momento a mais, fazer vitamina de banana.
            Ser amigo de verdade é suportar os ventos fortes que balançam o barco dos relacionamentos, é saber que ninguém é tão perfeito que não possa decepcionar as pessoas ao redor. É possuir expectativas, não tantas quanto não se possa corresponder nem tão poucas a ponto de não acreditar nas grandes “ambições” que precisamos sonhar juntos para ajudarmos no alicerce das grandes realizações, o alicerce chamado: suporte.
            Talvez por este motivo o apóstolo Paulo tenha escrito: “com toda humildade e mansidão, e com paciência, suportai-vos uns aos outros no amor” (Ef. 4;1). Este trecho infelizmente é interpretado de uma forma tremendamente distorcida, muitos acham que o “suportar” nesta passagem significa “aturar, tolerar”, e analisando a fundo é muito conveniente, apesar de não ser tão fácil, pois quando toleramos simplesmente ouvimos e somos simpáticos ao invés de sermos empáticos. A verdade é que este versículo se refere ao significado: “ato de dar suporte”, ou seja, numa linguagem mais simples: “com toda humildade e mansidão, e com paciência, ofereçam suporte uns aos outros”. Com este significado o versículo não parece um tanto diferente? Este é o nosso dever básico! Ser suporte para quem necessita.
            Portanto vou ficando por aqui, sem mais delongas, homenageando a todas as pessoas que eu amo e que representam muito mais do que o melhor filósofo ou poeta de todos tempos (exceto “O” grande Filósofo e Poeta) poderia dizer. Amo vocês, meus queridos tesouros.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Um desabafo



Ultimamente tenho andado à flor da pele com toda a correria e problemas referentes a formatura, último semestre, monografia e coisas do tipo... por isso vim aqui desabafar bem rapidinho! Faz muito tempo desde que eu não paro pra postar nada no blog e já que meus leitores não são muitos, não há problemas em compartilhar minha angústia neste espaço singelo particular.

Tenho percebido que chega um momento na vida onde tudo desmorona e você já não sabe quem é ou o que quer e tudo que você consegue enxergar é uma cortina preta em sua frente, te impedindo de ver o amanhã. O medo do futuro começa a consumir seu interior, às vezes nem é medo, é ansiedade, ou um misto dos dois, dá uma vontade de simplesmente desaparecer. Sabem aquela velha pergunta: "como serei no futuro?"... E se esse futuro está às portas, imaginem então como as coisas se complicam ainda mais? Acho que não sou o único a passar por um momento destes, eventualmente todos se deparam com situações do tipo como a mudança de uma cidade para outra (ou de um país, rsrs), o que escolher no vestibular, qual decisão tomar em relação ao trabalho dos sonhos que agora se tem a oportunidade de conseguir com suas devidas renúncias.

Pronto! Acho que essa é a palavra: renúncia! O medo vem da renúncia, renúncia do comodismo, do que já é seguro, renúncia da certeza. "Como assim? Renúncia da certeza?" Isso! É muito fácil darmos o próximo passo sabendo onde estamos pisando, conhecendo o terreno, mas quando o terreno é totalmente desconhecido é completamente diferente!

-Mas Sinval - o meu eu procupado me pergunta, sem exergar absolutamente nada da providência do Deus que nunca deixou faltar nada - o futuro está aí, quem seremos? Correremos atrás do nosso sonho ou da nossa carreira? - o coitado as vezes não consegue ligar os 2 pontos - E se... E se... E se...
Dá uma vontade de responder: "CALA BOCA, SINVAL!!" kkkkk, mas infelizmente ele não se cala! Alguém se identifica com esta situação? levante a mão (\o/) kkkk

Quando estou no ápice destas crises Deus me leva a lembrar de uma promessa que quero compartilhar com você, independente de estar passando por um momento parecido ou não: "O vento assopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito." (João 3:8)

Aí a calma parece retornar nesta infinita batalha onde me confronto todos os dias, a única coisa que espero é não perder a sensibilidade em meio à correria dos estudos e do trabalho, ou até mesmo que os meus sonhos não ofusquem os sonhos de Deus em minha vida, que o egocentrismo não encontre espaço para se alojar em meu coração pois Cristo vive em mim e Ele também prometeu: "Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, Eu venci o mundo." (João 16:33)

Portanto, finalizo dizendo Cristo vence o mundo através da minha vida se eu deixar Ele trabalhar da forma como Ele deseja. Pois Cristo em mim é esperança da Glória, ainda que muitas vezes eu esqueça, e precise escrever para eu mesmo lembrar, refletir, entender, viver.

sábado, 2 de julho de 2011

A cidade indiferente - Epílogo

Então se retirou dali e Deus o transformou num grande missionário que propagava a mensagem do evangelho de Cristo a todos com sua própria vida. Todos na Grécia maravilhavam-se com a real transformação que o evangelho de Cristo pode fazer na vida de alguém. Agora nosso gadareno conseguiu descobrir de verdade quem ele realmente havia sido criado para ser. Encontrara a essência do seu verdadeiro eu que está no encontro com Jesus.
Como ficaram os moradores da cidade de Gadara? Continuaram em sua ambição maligna ou foram alcançados pela redenção do evangelho? Esta informação me é desconhecida, caros leitores, mas uma coisa é certa, com certeza eles tiveram mais oportunidades de ouvir as verdades, pois Deus nunca cessa de querer relacionar-se com todos.
         Quanto aos três jovens, caminharam juntos, há quem diga que eles voltaram a Gadara e foram rejeitados novamente. Provavelmente foram Mártires assim como Estevão, Pedro, e muitos outros. A história deles é desconhecida, assim como a de muitos outros heróis da fé cuja história não é relatada na bíblia embora sejam conhecidos intimamente por Deus, cada um deles, como todo herói da fé, como nós devemos ser, eu e você.
E assim termina nosso conto. Um simples encontro, um simples toque e tudo pode mudar para sempre. Basta que você deixe Jesus alcançar a sua vida. Basta ter um encontro com Ele! Esta pode não ser uma história tão parecida com a sua, mas com certeza é parecida com a de muitas pessoas que já encontraram a Jesus. Ele pode fazer o mesmo por você.

A cidade indiferente - Capítulo 6 (Final)

- Eu já havia me perdido completamente dentro de mim. Os deuses a quem eu servia me possuíram ao ponto de não deixarem mais eu me governar. Eu apagava durante e dias e perdi as contas de quantas vezes me encontrava nu, ensangüentado e cheio de feridas... As pessoas ao me verem na rua desviavam seus olhares enquanto eu sentia o cheiro do medo no ar por onde passava. Não entendia muito bem o porquê daquilo tudo no início, somente sabia que quem havia feito o que quer que fosse não era eu mesmo. – Contava desabafando por finalmente encontrar alguém disposto a ouvir a sua história.
- Depois um tempo, conseguia de uma forma que eu não sei explicar, ver o que eles faziam enquanto eu me assistia de camarote no meu interior, como quem assiste uma cena em terceira pessoa, sentindo os calafrios malignos que tudo me causava. Eles me levavam até o cemitério e muitas vezes até comiam a carne dos mortos lá. As pessoas da cidade até tentavam me prender, mas aquela força absurda quebrava os grilhões e as correntes.
- Eles batiam nas pessoas que passavam por onde estávamos. Faziam até pior! Eram tantos que muitas vezes brigavam entre si para tomar o controle do meu corpo e eu nada podia fazer a não ser sofrer o impacto no corpo carnal da força espiritual que não sabia explicar, até que aceitei: aquele era meu destino!
Os jovens estavam vidrados e assustados como quem assiste a um filme de suspense e terror, curiosos para saber o que acontecera e transformara de verdade a vida daquele sujeito que não aparentava ser mesmo sujeito da história. Sua voz era serena, os olhos firmes e pacíficos, sua expressão de alguém que realmente foi alcançado por algum tipo de redenção. O homem que estava na frente deles era uma figura um tanto diferente de todas as demais da cidade. Era algo que eles não sabiam explicar, algo que saía do interior e refletia no exterior.
-Nossa! Esse era mesmo você? Estes seres eram tão poderosos assim? Parece uma história de terror!
-Sim! - respondeu quase rindo das expressões dos jovens –, Este era realmente o meu velho eu, acreditem! Até que certo dia eu avistei um barquinho bem longe, não liguei e continuei fazendo sei lá o quê. Revirando sepulcros, eu acho! Quando o barco chegou por ali, um homem desceu e havia uma luz e um calor que emanava de forma sobrenatural, lembrei-me do episódio dos gigantes com espadas de fogo que havia visto um tempo atrás. Os deuses dentro de mim me levaram a correr desesperadamente ao seu encontro e dizer-lhe: “Que temos nós contigo, ó Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Vieste aqui atormentar-nos antes do tempo?”. Ao dizerem isso todos tremiam de medo dentro de mim num desespero assombroso, embora eu ali perdido no meio de todos eles sentisse uma coisa diferente do que já havia sentido em toda minha vida.
- Então Jesus perguntou: “qual o teu nome, espírito imundo?”, “Legião, somos muitos”- Responderam eles enquanto rogavam que Jesus não lhes mandasse para fora do país. “Se nos expeles, manda-nos para aquela manada de porcos bem ali”. Eu estava claramente assustado. Nunca havia visto tamanha autoridade em minha frente. Como poderiam eles que se achavam donos de tudo e de todos; que faziam o que bem entendiam, pedir a permissão daquele homem para fugirem para uma manada de porcos? Não eram deuses de verdade! Aquele que estava  à minha frente sim!
-Quando Jesus permitiu, eles saíram e entraram em cerca de 2 mil porcos, que se atiraram do precipício e morreram todos. Logo toda a cidade de Gadara ficou sabendo e muitos vieram ao encontro de Jesus, viram que eu estava são e vestido e não se alegraram pela minha recuperação, antes, pediram que Jesus fosse embora dali porque estavam preocupados com o prejuízo dos porcos. Pediram ainda que eu fosse com Jesus, e eu até queria, mas Jesus mandou que eu voltasse para casa e anunciasse as coisas que ele fizera comigo.
-Mas e agora? Ninguém em Gadara lhe ouve, o que você vai fazer? – perguntavam as crianças curiosas para saber qual o próximo passo do novo homem reformado por Deus.
-Eu só estava aqui direcionado por Deus para que a mensagem do evangelho alcançasse vocês três minhas criancinhas. Permitam que Deus faça com vocês o mesmo que fez comigo. Deus havia me dito que eu ficasse aqui até quando alguma pessoa parasse e me ouvisse, afirmando que aquelas poucas pessoas fariam uma grande diferença no futuro, e estas pessoas são vocês! Alegro-me em meu sentimento de tarefa cumprida, e agora, sob o direcionamento do Altíssimo, irei para Decápolis pregar as boas novas do Senhor Jesus.
E partiu dali.

Sinval Guerra

quinta-feira, 30 de junho de 2011

A cidade indiferente - Capítulo 5

Voltando ao “presente”. Acredito que agora muitos já conseguem entender o motivo de o povo de sua cidade não mais lhe atribuir nenhuma importância. Contudo, ele continuava ali clamando incessantemente às pessoas:
-OLHEM PARA MIM, OLHEM AS CICATRIZES, AGORA SÃO CICATRIZES, VOCÊS NÃO VÊEM? NÃO ENXERGAM? SÃO LOUCOS?- Continuava emocionado expondo várias marcas em seu corpo. – OUÇAM ESTA MENSAGEM! ELA IRÁ MUDAR A VIDA DE VOCÊS!
- Será que chegará o dia em que a terra o engolirá? Feliz do dia em que isto acontecer, o mundo será um lugar melhor! – afirmavam num tom cético de quem já não mais tem esperanças por um “milagre”. O fato era que ninguém queria ver o tal milagre. Ninguém esperava por ele, por isto de fato não o enxergavam com olhos de quem procura a verdade por trás dos acontecimentos. Diziam muitas coisas a mais. Achavam que o nosso pobre incompreendido era o grande motivo de as coisas por ali não irem tão bem quanto deveriam afinal nosso herói teve o seu passado negro e tentava com todas as suas forças provar o contrário.
Ele olhava as crianças brincando nas ruas lembrava como se fosse ontem o tempo em que brincava com seus amigos, o tempo em que nenhuma cobiça ou vaidade havia invadido seu coração. Alegrava-se por saber que poderia fazer alguma diferença já que estava no caminho certo dessa vez.
- ARREPENDAM-SE, ARREPENDAM-SE JÁ! EU VI! EU O VI! EXISTE UM SÓ DEUS! TUDO QUE EU DIZIA ANTES A RESPEITO DE DEUSES ERA MENTIRA! ELE ME TOCOU, ELE ME TOCOU! – continuava gritando enquanto andava e olhava para os lados à procura de alguém que o ouvisse.
Lá no fundo ele sabia que mesmo que ninguém o ouvisse, a gratidão que habitava no seu novo ser preenchia-o com uma alegria inexplicável de gozo e paz ao mesmo tempo, e saia todos os dias e pregava a mensagem. Mas ninguém lhe dava ouvidos.
Muitas vezes orava: -Deus, será que os pecados do meu passado anularão a Tua mensagem do meu novo ser? Senhor eu não sou digno de me usares, mas por que então mandaste que eu voltasse aqui? Eu poderia ter ido contigo quando tive a chance, mas resolvi te obedecer, e agora o que posso fazer se ninguém me ouve? Mandaste-me de volta para ser humilhado enquanto falo a respeito das coisas que me disseste? - O novo homem era realmente muito temente a Deus e buscava com todas as suas forças ser fiel, mas continuava se sentindo culpado pelas coisas do seu passado.
Sentimento de culpa este que só foi transformado ao encontrar um grupo de três crianças com quem dialogou durante um tempo. Aquele foi o dia em que a obediência começou a fazer um sentido real em sua vida, em que o passado já não lhe pesava mais, e ele contava sua história para as crianças dizendo:
- Bem minhas amadas criancinhas, tudo começou desta forma:

Sinval Guerra

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A cidade indiferente - Capítulo 4



A morte de sua mãe o deixara realmente desnorteado. 
       Aproximadamente 2 ou 3 anos depois, nosso herói descobre que seu pai era na verdade um mercenário, assassino de aluguel, e por este motivo sua mãe havia morrido daquela forma, uma espécie de vingança de uma “gangue” inimiga (ou seja lá como eram chamados estes tipos de grupos naquele tempo). A esta altura ele já tinha saído de casa e ido para um templo de uma religião conhecida pela adoração aos seus vários deuses, deixando-se enganar pela cultura destes falsos. Ele estava apenas sendo introduzido à seita.
Com 17 anos recebera a noticia de que seu pai havia sido morto da mesma forma que também sua mãe havia morrido, porém ele mais velho e menos sensível já não possuía mais sentimentos pelas pessoas (e ainda considerava aquilo tudo “maturidade” de sua parte). Esta notícia não abalou nem um pouco suas estruturas, pelo contrário, se existiam resquícios do último laço afetivo humano que ele possuía, era com seu pai, agora, já não havia mais. Não lhe restava mais nada a não ser dedicar-se de corpo e alma ao que realmente lhe interessava: ser o melhor no que fazia.
O tempo ia passando e ele ia se aprofundando cada vez na religião a qual servia. As promoções até os maiores graus iam surgindo numa velocidade espantosa, até que para atingir certo grau era necessária a prática da flagelação. Com todo seu coração envolvido na ambição do reconhecimento não contou esforços e começou a surrar seu corpo. Aquilo ia ficando cada vez pior e em seu corpo se encontravam feridas praticamente necrosadas devido ao constante flagelo.
Achava ele que os deuses se agradavam cada vez mais de sua vida e ia adquirindo um poder sobre-humano de enxergar coisas espirituais, realizar obras de feitiçarias a favor ou contra as pessoas que lhe procuravam. Isto tudo refletia na sua vida financeira, que ia de vento em poupa. Estes tipos de trabalhos eram muito caros e somente o alto escalão tinha condições de pagar por estes serviços.
Com 20 anos já era o grande mestre da religião, e procurado pelos grandes nomes era rico e tinha status, poder político, influência sobre a vida das pessoas. Mas ainda aquilo não era necessário para que ele se sentisse feliz. Haviam dias em que seus deuses lhe pediam coisas absurdas como por exemplo: sacrifícios de crianças e isto lhe deixava bastante insatisfeito portanto ele não obedecia, sendo severamente punido por este tipo de comportamento. Outros como zoofilia e por assim ia, todos os tipos de coisas imundas que se possa imaginar.
Agora nosso protagonista já não mais sabe quem é ele próprio! São tantas entidades dentro de si que o seu verdadeiro “eu” já havia sido mergulhado nas dúvidas, na escuridão de quem já não sabe quem é ou que fazer.
Certo dia passava pela cidade uma pessoa diferente, uma que não era da região. Podia-se notar de longe um brilho nos olhos que a diferenciava de todas as pessoas daquela cidade sombria. Havia algo dentro dela que incomodava nosso herói, como se de alguma forma ele se sentisse ameaçado por tamanha luz. Chegou mais perto e logo suscitou uma ira com desejos sanguinários em seu coração quando ele partiu correndo em sua direção e logo caiu de joelhos ao ver seres de enormes com espadas de fogo e vestes brancas e brilhantes que nunca havia visto em sua vida. Seus olhares brandos transmitiam paz e um calor tão aconchegante que não lhe restara opções a não ser fugir diante de tamanho poder.
Sinval Guerra

sábado, 25 de junho de 2011

A cidade indiferente - Capítulo 3

Bem, para entendermos um pouco mais sobre esta história é necessário fazer uma retrospectiva na vida do nosso obstinado personagem que até então somente é visualizado em seus atos de extravagância, aos berros no meio do povo. E ainda que estivesse falando verdades, era tido como louco, embora não se importasse. A imagem que todos tinham era muito distorcida a respeito do pobre coitado, até mesmo a do leitor deste conto pode ser equivocada, ou cheia de interrogações, mas agora conheceremos um pouco e as dúvidas começarão a cessar.
Como alguns já devem ter percebido, nosso protagonista possui uma característica muito forte: ele era realmente focado em seus objetivos e não importava o que as pessoas achavam ou diziam (ou até pensavam em dizer). Ele era bastante convicto no que trazia em si! Particularidade esta que lhe foi herdada de seus pais, que também possuíam um gênio muito forte, o que não era muito anormal se fôssemos levar em conta o estilo de vida do meio em que eles viviam.
Quando criança não tinha muito contato com seu pai. Ele era muito ocupado com o trabalho e chegava em casa apenas nos horários de refeições e com muita pressa. Lembrava-se de ouvir sua mãe se queixando da falta de tempo e do trabalho de seu cônjuge – Quando isto irá acabar? Quando meu marido terá algum tempo para sua família? – indagava sempre o trabalho de seu marido, embora por algum motivo o filho fosse deixado de lado dessa informação. Quando lhe perguntavam qual o trabalho de seu pai, não sabia responder – Ele faz de tudo, e...eu acho- respondia gaguejando como quem queria mudar de assunto.
Aquela não era uma família muito religiosa e não seguiam padrões de conduta (normalmente as religiões trazem em si parâmetros de conduta que “governam” a vida das pessoas de alguma forma, mas não naquela família, não naquela cidade). Não eram raras as vezes que o garoto ouvia seus pais discutindo durante a noite, mas ainda sim não entendia muito daquilo. Era apenas uma criança inocente e crianças nunca entendem a profundidade dos problemas dos adultos. Talvez seja por isto que elas sejam tão felizes e se contentem em coisas tão simples. Elas são mesmo um exemplo a serem seguidas! E aquele garoto ia crescendo e vendo todo tipo de iniquidade praticada naquele local.
Certo dia, com aproximadamente 11 ou 12 anos mais ou menos, nosso pequeno garoto chega à porta de sua casa e ouve um som de choro lá dentro. Corre depressa e se depara com uma cena terrível que mudaria o curso de sua vida para sempre. Sua mãe estava ensangüentada nos braços de seu pai que chorava como criança com a mão na barriga dela, lugar onde ela tinha tomado uma facada, afirmando: - Isso não vai ficar barato, eles vão me pagar, vão me pagar! – Neste momento sua mãe já estava em seus últimos suspiros, e olhava para ele que estava ali parado em estado de choque. O coração batia quase saindo pela sua boca. A adrenalina em excesso fazia seu corpo tremer como quem aos poucos perde o controle de seu corpo. Ele continuava quase se beliscando na tentativa de acordar e perceber que tudo aquilo não passava de um terrível pesadelo, uma pegadinha sem graça que a sua mente lhe pregava. A morte de sua mãe bem na frente de seus olhos foi realmente fator determinante para os próximos acontecimentos!

Sinval Guerra

quarta-feira, 22 de junho de 2011

A cidade indiferente - Capítulo 2

Aquele lugar era muito parecido com as feiras de hoje: pessoas saíam do interior para suprir suas necessidades de consumo ali, muita gente gritando, muita gente andando, o cheiro forte das comidas típicas sendo feitas na hora (alguns doces de frutas que são envolvidos por folhas, “churrasquinhos” à moda, peixes assando, pães com todos os tipos de formas e tamanhos e até mesmo recheios) abriam o apetite, enfim, um fluxo perfeito do mais pacífico caos. As barracas possuíam um toque único de uma cultura desenvolvida para a época, todas com detalhes peculiares e diferenciados, algumas com cantos arredondados, outras não; algumas feitas em madeira e outras com espécie de metal (que não era tão caro assim), algumas rústicas e outras futurísticas, porém o mais interessante eram os desenhos talhados. Pareciam com animais (alguns juravam que podiam ver leões, tigres, elefantes e camelos), outros pareciam com as ondas do mar, alguns outros com tribais de culturas diferentes, mas todos interessantes em suas especificidades.
Era realmente um lugar muito chamativo. Mágicos se apresentavam enquanto miravam seus sustentos, malabaristas impressionavam o público, músicos tocavam (sim, a música do lugar também era outra coisa rica, que dava um toque todo especial a tudo aquilo). Havia também as mesas de jogos em que os apostadores faziam seu tipo de “maracutaia”. Tudo parecia muito interessante e as muitas “informações” prendiam a atenção de todos. Na verdade existem histórias de pessoas que foram enviadas para fazer as compras de alimentos do mês e se perderam nas tentações das belas propagandas de adornos e utilitários e voltaram para casa sem nada. E como todo lugar onde há jogos, há também aqueles que perderam tudo e hoje mendigam por não mais possuírem bens.
Encontravam-se ali também aquelas pessoas que fazem de tudo para subir na vida, inclusive a contratação de mercenários para o assassinato de quem fosse “pedra no caminho” ou na escada, já que só se falava em “subir degraus”. Esta era uma expressão bastante comum naquela região e falava a respeito de poderio econômico, e consequentemente, poderio político. Nestes(os políticos),  o mau encontrou espaço e se apossou completamente de suas almas. A vida humana era vista somente como mão de obra para quem lhe fosse subordinada e lixo descartável para quem lhe fosse concorrente (inimigo).
Vendo tudo isto com os olhos já não mais vendados pelas mentiras que outrora o cegavam e pelas personalidades que já não mais lhe pertenciam, nosso herói entrava num colapso ao tentar lhes avisar de suas práticas. Era muita informação (e aquilo tudo já lhe era familiar há muito tempo).Porém agora ele enxergava claramente o lado negro das pessoas.Via que o que lhe fora precioso durante todo o tempo já não era mais o motivo de sua existência, e aquilo tinha livrado ele de um fardo pesado. Mas será que ele era o único naquela cidade que conseguia ver isto? Poderia ele ao menos ser ouvido? Ou será que seu passado já o havia mergulhado tão fundo na escuridão que já não havia mais meios para que ele fosse ouvido? Ainda sim, continuava aos gritos, cada vez mais altos, alguns com expressão de choro, alguns com expressão de angustia, mas persistia na certeza da verdade de que havia finalmente se encontrado:
-NÃO ENTENDEM O QUE ESTÃO FAZENDO? OUÇAM-ME.  VOCÊS PRECISAM VER !  PRECISAM VER... PRECISAM ENXERGAR!

Sinval Guerra

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A cidade indiferente - Capítulo 1

Bem fiéis seguidores e leitores do blog... começarei hoje uma série de um conto que escrevi semana passada, inspirado por alguns acontecimentos e uma música em especial. Espero que gostem e que a leitura seja prazerosa! Boa leitura a todos!




-PAREM! OUÇAM-ME! POR QUE CONTINUAM ME IGNORANDO? – Gritava desesperadamente um rapaz enquanto rasgava suas roupas num desgosto que parecia tornar a sua alma cheia de temor e tremor pelas pessoas a quem tentava falar. Lançava-se numa mistura de angústia e de anseio por um pouco de atenção. Mas o povo daquela cidade continuava a negociar seus produtos em meio ao comércio com seu comportamento naturalmente indiferente que assustava alguns dos visitantes que por ali passavam e nada sabiam. No entanto continuavam a fazer o que lhes era conveniente, já que ninguém natural do lugar dava atenção para o tal acontecimento.
            -Tirem esse louco daqui! Está atrapalhando tudo outra vez!- Pensavam infelizes enquanto não se davam ao luxo nem de comentar, para que aquilo não tomasse maiores proporções, afinal aquela já não era a primeira vez que este tipo de coisa acontecia com o mesmo sujeito, falando coisas muito parecidas com as de sempre. Mas quem ligava para o conteúdo do que ele falava se o discurso era só parecido ou igual? O esforço para tentar entendê-lo não passava de uma mera perda de tempo, e tempo é dinheiro, então que o tempo seja investido para o que realmente interessa: adquirir riquezas num tempo um tanto difícil, onde quem consegue se virar para comer e vestir bem já é considerado vitorioso, destacado! Não naquela cidade! Aquela era uma cidade rica, portanto ganância pouca era coisa rara. Sempre pensavam no muito, no topo, no mais, e mais e mais... Pensavam no lucro acima de todas as coisas. O que realmente importava naquela sociedade era o poder aquisitivo.
 Havia todos os tipos de pessoas e comerciantes naquele lugar. Lá se comprava ouro, animais, fios de ceda da mais alta qualidade, iguarias. Era realmente um centro comercial da região, e como todos os centros comerciais, havia uma disputa constante que invalidava qualquer tipo de amizade, aliás, vou até mais fundo, impossibilitava qualquer tipo de relação humana. As relações eram muito robóticas, apesar de naquele tempo não existirem robôs. As pessoas se relacionavam somente quando necessário e com uma superficialidade fora do comum, todos isolados em suas bolhas de conveniência procurando seu próprio conforto e satisfação.
E o nosso esperançoso jovem em sua missão colossal parado ali, no meio de tudo aquilo, clamando por um pouco de tempo e atenção, como um pequeno broto de árvore que tenta crescer entre os espinhos acreditando piamente na mensagem que lhe fora confiada. Aquilo tudo o transformara e por que não transformaria também a todos de sua vila? Ele era visionário, não queria apenas que aquelas boas coisas acontecessem em sua vida, queria mais, era ambicioso! Mas era uma ambição completamente diferente da do povo de sua cidade, até mesmo completamente diferente de suas próprias ambições de alguns dias atrás! Aspirava ver todos impactados com aquela nova notícia que poderia mudar o curso do mundo. Era algo tão grande que tremia de pensar em falar aquelas coisas tão complexas e simples ao mesmo tempo. Era realmente muito importante. Cabia a ele anunciar  e tentar mudar a história de “sua casa”.

Sinval Guerra

terça-feira, 7 de junho de 2011

Ode a ela


Não amo-te desinteressadamente
Interessa-me a tua companhia
Não amo-te desintencionalmente
Intenciono ver-te feliz em teus lindos risos
Não amo-te desesperadamente
O desespero traz em si o egoísmo
Não amo-te desordenadamente
Na bagunça não se encontra o que se deseja
Não amo-te incondicionalmente
Só o amor de Deus o é
Não amo-te só emocionalmente
A paixão é uma irônica donzela que vai e vem quando bem entende
Não amo-te só racionalmente
É inegável que a constante saudade seja emocional

Amo-te pacientemente
Como quem espera a primavera
Amo-te simplesmente
Como estas simples palavras que escrevo
Amo-te amadamente
Amo-te
Amo-te

Sinval Guerra

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Perdoar ou curar?




O dissabor inexplicável era constante enquanto as pessoas me olhavam com um olhar de falsa comiseração, como quem dizia: “Olha só, aquele que outrora era alguém, agora é só um aleijado!”... pois é, “agora é só um aleijado”! Era exatamente a isso que se resumia a minha vida enquanto eu acreditava ser esta a minha verdadeira sina, após ter perdido a capacidade de andar numa trágica situação. Mas nem tudo era tão ruim, na verdade existiam quatro bons motivos para que meus dias fossem menos difíceis, quatro amigos que desde a minha infância me acompanhavam, e não me deixaram sequer um dia de lado, por minhas limitações! Éramos tão felizes enquanto crianças. Subíamos nas arvores, pulávamos nos rios, corríamos alegres enquanto os problemas ainda não nos alcançavam.
Certo dia chegaram lá em casa, com um plano meio maluco, dizendo que havia um homem a quem acreditavam ser o tão esperado Messias. Disseram que ele tinha o poder para me curar, logo pensei: “ele realmente tem o poder de curar? Como poderei encontrá-lo? É loucura! Prefiro me abster de falsas esperanças!”. O ceticismo já havia criado raízes em minhas convicções, e eu aceitara que meu pobre destino era realmente padecer no alento com remorsos e lembranças de dias melhores, apenas aquilo.
O grande dia chegou, vieram então meus amigos e me carregaram no leito até onde estava um sujeito chamado Jesus, que havia nascido em Nazaré, mas pensava eu: “que boa coisa pode sair de Nazaré?”. Logo vi que multidões o cercavam, e me maravilhei com as boas coisas que ouvia a seu respeito, palavras que ascendiam minha esperança como uma pequena brasa que com a ajuda vento se transforma em labareda, mas logo comecei a resmungar atormentado por outra inquietação: “Como chegarei ao mestre se tanta gente o cerca? É melhor voltarmos para casa”. Não deram ouvidos às minhas lamentações, estavam bolando algum plano engenhoso enquanto sorriam e olhavam para mim... a uma altura desta a curiosidade para ouvir o que se passava na rodinha já havia inundado minha mente, quando disseram: “- Eu conheço esta casa, no teto dela há um buraco – (iam dizendo enquanto eu me assustava com suas mentes criativas) – Nós amarraremos cordas no seu leito, uma em cada ponta... te desceremos até lá, e então o Rabi irá curar-te!”. “- Meu Deus, quão loucos vocês conseguem ser?” – respondi enquanto meus olhos enchiam-se d’água em ver o esforço de cada um deles.
Dito e feito! Mas chegamos então à parte mais importante da minha história... quando me desceram até o local o mestre sorriu para mim então virou-se e disse aos que lá estavam: “O que é mais difícil, quem irá me responder: Perdoar ou curar?” Enquanto o silêncio tomava conta da sala, ele novamente olhou para mim, com um olhar de afeto e disse: “Perdoados estão os teus pecados, toma a tua esteira, e vai para tua casa!” E de repente os movimentos foram voltando em segundos, foi como se eu nunca  os tivesse perdido. Mas muito mais importante que aquilo, algo mudou em meu interior, algo que me fez acreditar mais na intimidade do Deus dos meus Pais, aquele homem realmente era o filho de Deus enviado ao mundo.
Mas ainda sim uma pergunta ecoou e perdurou-se em minha mente por um longo tempo. Só consegui obter a resposta depois de anos, por que ele não simplesmente disse que fosse curado e tomasse meu leito como foi com todas as outras pessoas? Por que ele perdoou os meus pecados e isso me curou? A resposta chegou quando o vi pendurado naquela cruz, todo ensangüentado e quase morrendo, foi ali que entendi que curar era muito simples pois ele tinha o poder para operar não somente isto, mas coisas muito maiores, mas para que meus pecados fossem perdoados, ele precisara se entregar como um cordeiro, o cordeiro de Deus. Precisou carregar a cruz após ser espancado. Que trouxe a redenção dos meus pecados e me libertou de muito mais do que apenas a limitação física, mas libertou-me de mim mesmo, e me fez um só com o Pai. Agora sim eu entendo que perdoar-me custou-lhe seu sangue vertido naquele calvário.  (Texto inspirado por Mateus 9)


Sinval Guerra

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Reformando


            Bem... a algum tempo venho brincando e dizendo que Deus tem me concedido o ministério das coisas simples, e sou muito grato por isto! Por conseguir ver a Sua glória em coisas simples e que fazem uma grande diferença em minha vida, e é claro, espero que na sua também, meu caro leitor. A algum tempo venho falando a respeito de coisas corriqueiras na vida que muitas vezes passamos desapercebidos sem tirar as lições que Deus deseja nos ensinar, e não vai ser diferente agora... quero falar a respeito de reformas.
            Esses dias ando me sentindo bastante incomodado pelo motivo de que minha casa está em reforma. Vocês sabem como são reformas: muita bagunça, muita poeira, todos os móveis fora do lugar, você quase não tem lugar para transitar na casa, muito menos lugar de privacidade e de silêncio. O barulho dos martelos e ferramentas trabalhando é ensurdecedor, você quase não consegue se concentrar em nada! NOOOOSSA... É TERRÍVEL! (que desabafo, né? rsrs) Pois então, blogueiros, aposto que todos vocês já passaram por situações assim.
Um dia desses um amigo entrou aqui e se espantou com a bagunça e me perguntou: “Reformando?”, respondi: “Pois é, tá tudo fora do lugar, bagunçado!”. Pronto! Sabem quando aquela luzinha dos desenhos animados aparece em sua mente e tudo começa a fazer sentido?
            Deus tem um senso de humor amável e nos mostra a vida como uma casa: “Porque nós somos cooperadores de Deus; vós sois lavoura de Deus e edifício de Deus.” (1 Cor 3:9) Simples assim! Somos edifícios de Deus! E esta reforma me ensinou algumas coisas importantes.
            O tempo passa e os edifícios vão ficando velhos. As mobílias que outrora eram novas começam a envelhecer, enferrujar, até que chegam ao ponto de uma necessidade de troca. As paredes vão ficando manchadas, as vezes até com infiltrações. A casa que outrora era nova e linda vai envelhecendo e perdendo a beleza da novidade, e são nessas horas que se precisa de uma reforma. Os móveis precisam ser trocados, as paredes rebocadas, re-pintadas ainda que isso gera uma grande “confusão” e é aí que tudo parece estar uma bagunça só! Nada está mais no lugar, parece que tudo está sendo desconstruído, a poeira da reforma vai tomando conta da casa que parece estar indo à falência. A falta de espaço nos faz perder a noção de como as coisas ficarão no final do processo. Só que quando tudo termina, as coisas ficam limpas novamente, novas: “Assim que se alguém está em Cristo nova criatura é; as velhas coisas já se passaram, eis que tudo se fez novo” (II Cor 5:17)
            Esta é a proposta de Cristo em nossas vidas, reformar o nosso interior mesmo que isso gere um incômodo muito grande (e acredite, vai causar!). Precisamos ser reconstruídos, reformados, a mobília precisa ser renovada, as paredes quebradas, e no meio do processo vamos achar que é tudo só bagunça, porém novos cômodos irão surgir, a casa ficará novinha em folha. Tudo que precisamos fazer é deixar Ele trabalhar! Mas não se preocupe, Jesus era marceneiro, Ele entendia muito bem de construções e de medidas específicas!
            Mas por fim, há um preço a ser pago por esta reforma: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” (Romanos 12:1). E aí, você está disposto a ser reformado?

Sinval Guerra