quinta-feira, 15 de outubro de 2015

A beleza do fracasso

           Certa vez Aristóteles disse: "Se as coisas são maravilhosamente adequadas às suas finalidades, e elas são singulares, é porque as finalidades também são singulares. Se todos nós tivéssemos a mesma finalidade seríamos iguais. A nossa finalidade é singular na medida da nossa singularidade". A visão que temos a respeito de nós mesmos se perigosamente moldada por uma sociedade e criação que exigem de nós que não sejamos o que nascemos para ser em nossa singularidade de finalidades, pode gerar uma um abismo em nosso sentido existencial, um buraco negro que suga toda a vida em suas nuanças orquestrais e todas as expectativas de uma vida cheia de potenciais.
            É realmente impressionante olharmos a quantidade de medalhas que os grandes campeões olímpicos possuem em suas modalidades, ou os troféus de determinados atletas, eles guardam tudo em vitrines e aquelas vitórias ficam eternizadas em suas belas estantes que seres mortais como eu e talvez você, nunca iremos alcançar, por mais que invejemos e nos esforcemos para tal. Existe uma sede de vitória e busca por bons resultados em tudo que fazemos, não porque queremos fazer tudo com o melhor que temos, mas porque de alguma forma queremos e gostamos de exibir nossos números e feitos maravilhosos a todos os amigos, uma espécie de transferências do facebook para a vida real, só que no nosso discurso. – Por que facebook? – Alguns vão me perguntar, e minha resposta é bem simplória: O facebook é o “mundo ideal, a utopia” de Platão, só que virtual, não mais somente no campo das ideias.
            -Onde o tema do texto se encaixa nisso tudo? – Em tudo! A verdade é que o nosso pragmatismo nos cega para coisas realmente importantes na vida e nos distraímos nas seduções das grandes vitórias que podemos colocar em nossas estantes da vida ao perdermos de vista os grandes benefícios que os fracassos e as quedas podem nos ensinar. A verdade é que incontáveis derrotas, não são, de fato, derrotas. A verdade é que apesar de tudo, o clichê: “tudo tem um lado bom” tem um Q todo especial e belo, que poucos valorizam.
            Deixem-me citar um exemplo para ilustrar meu pensamento: Um homem que passou 30 anos se preparando para atuar somente em 3 anos de vida e durante esse processo foi rejeitado pela grande maioria, sua mensagem não foi belamente recebida pois ele não possuía a intenção de ser compreendido por todos (pasmem!), um homem que foi rejeitado inclusive por alguns de seus mais chegados e teve a morte mais vergonhosa de todas. É dEle mesmo que estou falando, o Deus poderosamente fraco, Jesus! Possuindo o poder e as ferramentas para executar absolutamente tudo quando quisesse, submeteu-se à vontade do Pai e fracassou vergonhosamente aos olhos dos homens que não possuem a fé de enxergar através da cruz e perceber a gloriosa vitória alcançada por seu “fracasso”.
            Perdemos nossa vida construindo as tais estantes vitoriosas para mostrar a outrem, esquecemo-nos que, como diria Saint Exupéry: “o essencial é invisível aos olhos”. Perdemos nossa vida confundindo a importância de ser relevantes existencialmente com a importância de ganharmos nossas medalhas e troféus, não importando o custo dos mesmos. Perdemos a nossa vida correndo atrás do vento, perdendo tempo. Perdemos nossa vida no eterno conflito ser/ter.
Portanto, meu amigo, se assim como eu você é também um fracassado, bem vindo ao mundo daqueles que enxergam que nem todo fracasso é ruim, e por isto, já não se importam mais se aparentam serem fracassados ou não, já não se importam mais com a imagem que possuem por terem errado, caído, enganado-se em escolhas erradas, não esforçado o suficiente ao mesmo tempo em que tentaram fazer a coisa certa. Não estou afirmando que todos os nossos erros são justificáveis, estou apenas alegando que nem todas as perdas  e insucessos aos nossos olhos são tão ruins quanto pensamos.


Trago-lhes boas novas, meus nobres perdedores: Algumas derrotas são melhores que vitórias, e há uma beleza MUITO peculiar em algumas delas.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Dessensibilização



Acredito que a dessensibilização é um dos processos mais difíceis da vida. Ele é tão sutil que o dessensibilizado não percebe que já não sente o vento da manhã em seu rosto enquanto um novo dia vem com todas as possibilidades de novidades, não enxerga nem mesmo que existem possibilidades de múltiplas possibilidades para quaisquer decisões que resolve tomar. O dessensibilizado não consegue perceber o calor de um abraço ou aperto de mão, nem se sentir assombrado ao pensar sobre sua própria existência, ou sobre o impacto que poderia haver no mundo a falta dela. O dessensibilizado não se contagia com sorriso de uma criança, não se sente impelido a planejar diante dos tantos planos de um jovem (mesmo sabendo que a grande maioria deles nunca irá acontecer) e não se sente reflexivo diante da experiência de algum ancião. O dessensibilizado não vê poesia na vida, não olha pro céu, tropeça em suas próprias lamúrias e cai em seu chão de tédio inerte. A dessensibilização pode ter acontecido por incontáveis motivos, com qualquer um e em qualquer lugar, posso até ir um pouco mais longe, e afirmar que além de ninguém estar imune a este estado vegetativo de vida (mas, boa notícia, é passageiro), podemos passar várias e várias vezes pelo mesmo.

E hoje, o que eu mais espero, é que eu nunca tenha a pretensão de achar que sou imune ao processo de dessensibilização, e que todas as vezes que por ventura ela resolva bater à porta de novo, que dure o mínimo possível, e quando for embora, que deixe em mim lições de tudo aquilo que eu não desejo ter/ser.