Acredito que a
dessensibilização é um dos processos mais difíceis
da vida. Ele é tão sutil que o dessensibilizado não
percebe que já não sente o vento da manhã
em seu rosto enquanto um novo dia vem com todas as possibilidades de novidades, não
enxerga nem mesmo que existem possibilidades de múltiplas possibilidades para quaisquer
decisões que resolve tomar. O dessensibilizado não
consegue perceber o calor de um abraço ou aperto de mão, nem se
sentir assombrado ao pensar sobre sua própria existência, ou sobre o impacto que poderia
haver no mundo a falta dela. O dessensibilizado não se contagia com sorriso de uma criança,
não
se sente impelido a planejar diante dos tantos planos de um jovem (mesmo
sabendo que a grande maioria deles nunca irá acontecer) e não se sente
reflexivo diante da experiência de algum ancião.
O dessensibilizado não vê poesia na vida, não
olha pro céu, tropeça em suas próprias lamúrias
e cai em seu chão de tédio inerte. A dessensibilização
pode ter acontecido por incontáveis motivos, com qualquer um e em
qualquer lugar, posso até ir um pouco mais longe, e afirmar que
além de ninguém estar imune a este estado vegetativo
de vida (mas, boa notícia, é passageiro), podemos passar várias
e várias vezes pelo mesmo.
E hoje, o que
eu mais espero, é que eu nunca tenha a pretensão de achar que sou imune ao processo de dessensibilização,
e que todas as vezes que por ventura ela resolva bater à porta de
novo, que dure o mínimo possível, e quando for embora, que deixe em
mim lições de tudo aquilo que eu não desejo ter/ser.
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