quinta-feira, 2 de junho de 2011

Perdoar ou curar?




O dissabor inexplicável era constante enquanto as pessoas me olhavam com um olhar de falsa comiseração, como quem dizia: “Olha só, aquele que outrora era alguém, agora é só um aleijado!”... pois é, “agora é só um aleijado”! Era exatamente a isso que se resumia a minha vida enquanto eu acreditava ser esta a minha verdadeira sina, após ter perdido a capacidade de andar numa trágica situação. Mas nem tudo era tão ruim, na verdade existiam quatro bons motivos para que meus dias fossem menos difíceis, quatro amigos que desde a minha infância me acompanhavam, e não me deixaram sequer um dia de lado, por minhas limitações! Éramos tão felizes enquanto crianças. Subíamos nas arvores, pulávamos nos rios, corríamos alegres enquanto os problemas ainda não nos alcançavam.
Certo dia chegaram lá em casa, com um plano meio maluco, dizendo que havia um homem a quem acreditavam ser o tão esperado Messias. Disseram que ele tinha o poder para me curar, logo pensei: “ele realmente tem o poder de curar? Como poderei encontrá-lo? É loucura! Prefiro me abster de falsas esperanças!”. O ceticismo já havia criado raízes em minhas convicções, e eu aceitara que meu pobre destino era realmente padecer no alento com remorsos e lembranças de dias melhores, apenas aquilo.
O grande dia chegou, vieram então meus amigos e me carregaram no leito até onde estava um sujeito chamado Jesus, que havia nascido em Nazaré, mas pensava eu: “que boa coisa pode sair de Nazaré?”. Logo vi que multidões o cercavam, e me maravilhei com as boas coisas que ouvia a seu respeito, palavras que ascendiam minha esperança como uma pequena brasa que com a ajuda vento se transforma em labareda, mas logo comecei a resmungar atormentado por outra inquietação: “Como chegarei ao mestre se tanta gente o cerca? É melhor voltarmos para casa”. Não deram ouvidos às minhas lamentações, estavam bolando algum plano engenhoso enquanto sorriam e olhavam para mim... a uma altura desta a curiosidade para ouvir o que se passava na rodinha já havia inundado minha mente, quando disseram: “- Eu conheço esta casa, no teto dela há um buraco – (iam dizendo enquanto eu me assustava com suas mentes criativas) – Nós amarraremos cordas no seu leito, uma em cada ponta... te desceremos até lá, e então o Rabi irá curar-te!”. “- Meu Deus, quão loucos vocês conseguem ser?” – respondi enquanto meus olhos enchiam-se d’água em ver o esforço de cada um deles.
Dito e feito! Mas chegamos então à parte mais importante da minha história... quando me desceram até o local o mestre sorriu para mim então virou-se e disse aos que lá estavam: “O que é mais difícil, quem irá me responder: Perdoar ou curar?” Enquanto o silêncio tomava conta da sala, ele novamente olhou para mim, com um olhar de afeto e disse: “Perdoados estão os teus pecados, toma a tua esteira, e vai para tua casa!” E de repente os movimentos foram voltando em segundos, foi como se eu nunca  os tivesse perdido. Mas muito mais importante que aquilo, algo mudou em meu interior, algo que me fez acreditar mais na intimidade do Deus dos meus Pais, aquele homem realmente era o filho de Deus enviado ao mundo.
Mas ainda sim uma pergunta ecoou e perdurou-se em minha mente por um longo tempo. Só consegui obter a resposta depois de anos, por que ele não simplesmente disse que fosse curado e tomasse meu leito como foi com todas as outras pessoas? Por que ele perdoou os meus pecados e isso me curou? A resposta chegou quando o vi pendurado naquela cruz, todo ensangüentado e quase morrendo, foi ali que entendi que curar era muito simples pois ele tinha o poder para operar não somente isto, mas coisas muito maiores, mas para que meus pecados fossem perdoados, ele precisara se entregar como um cordeiro, o cordeiro de Deus. Precisou carregar a cruz após ser espancado. Que trouxe a redenção dos meus pecados e me libertou de muito mais do que apenas a limitação física, mas libertou-me de mim mesmo, e me fez um só com o Pai. Agora sim eu entendo que perdoar-me custou-lhe seu sangue vertido naquele calvário.  (Texto inspirado por Mateus 9)


Sinval Guerra

2 comentários:

  1. Muito bom meu velho sinvas! Me emocionou...é difícil não ficar assim quando nos deparamos com tamanho contrangimento que é o amor de Cristo. O sangue que fora vertido, tornou-se agora investido na renovação do nosso ser, perdoados, redimidos, amados, salvos e agraciados. Que Deus te abençoe cada vez mais e nunca esqueça que teus dons são uma benção.

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  2. Esse texto nos mostra o quanto Ele está perto... Bem pertinho. O quanto Ele é sabio. E o Seu amor? Ultrapassa. Transcende. Cansei de ouvir falar de um Deus tão distante, eu prefiro Ele juntinho, aqui! Eu prefiro descansar em Seu amor...
    "Precisou carregar a cruz após ser espancado. Que trouxe a redenção dos meus pecados e me libertou de muito mais do que apenas a limitação física, mas libertou-me de mim mesmo, e me fez um só com o Pai. "

    E na mente agora aquela musica:
    "...eu posso viver sem mim..."

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