quarta-feira, 22 de junho de 2011

A cidade indiferente - Capítulo 2

Aquele lugar era muito parecido com as feiras de hoje: pessoas saíam do interior para suprir suas necessidades de consumo ali, muita gente gritando, muita gente andando, o cheiro forte das comidas típicas sendo feitas na hora (alguns doces de frutas que são envolvidos por folhas, “churrasquinhos” à moda, peixes assando, pães com todos os tipos de formas e tamanhos e até mesmo recheios) abriam o apetite, enfim, um fluxo perfeito do mais pacífico caos. As barracas possuíam um toque único de uma cultura desenvolvida para a época, todas com detalhes peculiares e diferenciados, algumas com cantos arredondados, outras não; algumas feitas em madeira e outras com espécie de metal (que não era tão caro assim), algumas rústicas e outras futurísticas, porém o mais interessante eram os desenhos talhados. Pareciam com animais (alguns juravam que podiam ver leões, tigres, elefantes e camelos), outros pareciam com as ondas do mar, alguns outros com tribais de culturas diferentes, mas todos interessantes em suas especificidades.
Era realmente um lugar muito chamativo. Mágicos se apresentavam enquanto miravam seus sustentos, malabaristas impressionavam o público, músicos tocavam (sim, a música do lugar também era outra coisa rica, que dava um toque todo especial a tudo aquilo). Havia também as mesas de jogos em que os apostadores faziam seu tipo de “maracutaia”. Tudo parecia muito interessante e as muitas “informações” prendiam a atenção de todos. Na verdade existem histórias de pessoas que foram enviadas para fazer as compras de alimentos do mês e se perderam nas tentações das belas propagandas de adornos e utilitários e voltaram para casa sem nada. E como todo lugar onde há jogos, há também aqueles que perderam tudo e hoje mendigam por não mais possuírem bens.
Encontravam-se ali também aquelas pessoas que fazem de tudo para subir na vida, inclusive a contratação de mercenários para o assassinato de quem fosse “pedra no caminho” ou na escada, já que só se falava em “subir degraus”. Esta era uma expressão bastante comum naquela região e falava a respeito de poderio econômico, e consequentemente, poderio político. Nestes(os políticos),  o mau encontrou espaço e se apossou completamente de suas almas. A vida humana era vista somente como mão de obra para quem lhe fosse subordinada e lixo descartável para quem lhe fosse concorrente (inimigo).
Vendo tudo isto com os olhos já não mais vendados pelas mentiras que outrora o cegavam e pelas personalidades que já não mais lhe pertenciam, nosso herói entrava num colapso ao tentar lhes avisar de suas práticas. Era muita informação (e aquilo tudo já lhe era familiar há muito tempo).Porém agora ele enxergava claramente o lado negro das pessoas.Via que o que lhe fora precioso durante todo o tempo já não era mais o motivo de sua existência, e aquilo tinha livrado ele de um fardo pesado. Mas será que ele era o único naquela cidade que conseguia ver isto? Poderia ele ao menos ser ouvido? Ou será que seu passado já o havia mergulhado tão fundo na escuridão que já não havia mais meios para que ele fosse ouvido? Ainda sim, continuava aos gritos, cada vez mais altos, alguns com expressão de choro, alguns com expressão de angustia, mas persistia na certeza da verdade de que havia finalmente se encontrado:
-NÃO ENTENDEM O QUE ESTÃO FAZENDO? OUÇAM-ME.  VOCÊS PRECISAM VER !  PRECISAM VER... PRECISAM ENXERGAR!

Sinval Guerra

3 comentários:

  1. Muito bom,

    Um perfeito retrato da sociedade contemporanea, e seja quem for o "heroi", sua figura nos desafia, desde já, a agir, a gritar, sair da inércia que nos envolve, e proclamar a liberdade!

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  2. esse conto vem suscitando em mim uma coisa que eu chamaria de "viajem agoniante".
    pq ele me prende nos indícios de cheiro, som, gosto... e no mistério de quem pode ser este pequeno heroi que grita por diferenca, por um cambio em este povoado!!
    "AAHHHHHHHHHHH"

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  3. esse "AAAHHHH" teu é ótimo bozo!
    obrigado pelos comentários meninas! vcs me impulsionam a continuar escrevendo... e esperem... no 3 capitulo vcs vão enlouquecer querendo logo o 4!
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    =)

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