Certa vez Aristóteles disse: "Se as coisas são
maravilhosamente adequadas às suas finalidades, e elas são singulares, é porque
as finalidades também são singulares. Se todos nós tivéssemos a mesma
finalidade seríamos iguais. A nossa finalidade é singular na medida da nossa
singularidade". A visão que temos a respeito de nós mesmos se
perigosamente moldada por uma sociedade e criação que exigem de nós que não
sejamos o que nascemos para ser em nossa singularidade de finalidades, pode
gerar uma um abismo em nosso sentido existencial, um buraco negro que suga toda
a vida em suas nuanças orquestrais e todas as expectativas de uma vida cheia de
potenciais.
É realmente impressionante olharmos a quantidade de
medalhas que os grandes campeões olímpicos possuem em suas modalidades, ou os
troféus de determinados atletas, eles guardam tudo em vitrines e aquelas
vitórias ficam eternizadas em suas belas estantes que seres mortais como eu e
talvez você, nunca iremos alcançar, por mais que invejemos e nos esforcemos
para tal. Existe uma sede de vitória e busca por bons resultados em tudo que
fazemos, não porque queremos fazer tudo com o melhor que temos, mas porque de
alguma forma queremos e gostamos de exibir nossos números e feitos maravilhosos
a todos os amigos, uma espécie de transferências do facebook para a vida real,
só que no nosso discurso. – Por que facebook? – Alguns vão me perguntar, e
minha resposta é bem simplória: O facebook é o “mundo ideal, a utopia” de
Platão, só que virtual, não mais somente no campo das ideias.
-Onde o tema do texto se encaixa nisso tudo? – Em tudo! A
verdade é que o nosso pragmatismo nos cega para coisas realmente importantes na
vida e nos distraímos nas seduções das grandes vitórias que podemos colocar em
nossas estantes da vida ao perdermos de vista os grandes benefícios que os
fracassos e as quedas podem nos ensinar. A verdade é que incontáveis derrotas,
não são, de fato, derrotas. A verdade é que apesar de tudo, o clichê: “tudo tem
um lado bom” tem um Q todo especial e belo, que poucos valorizam.
Deixem-me citar um exemplo para ilustrar meu pensamento:
Um homem que passou 30 anos se preparando para atuar somente em 3 anos de vida
e durante esse processo foi rejeitado pela grande maioria, sua mensagem não foi
belamente recebida pois ele não possuía a intenção de ser compreendido por
todos (pasmem!), um homem que foi rejeitado inclusive por alguns de seus mais
chegados e teve a morte mais vergonhosa de todas. É dEle mesmo que estou
falando, o Deus poderosamente fraco, Jesus! Possuindo o poder e as ferramentas
para executar absolutamente tudo quando quisesse, submeteu-se à vontade do Pai
e fracassou vergonhosamente aos olhos dos homens que não possuem a fé de
enxergar através da cruz e perceber a gloriosa vitória alcançada por seu “fracasso”.
Perdemos nossa vida construindo as tais estantes
vitoriosas para mostrar a outrem, esquecemo-nos que, como diria Saint Exupéry: “o
essencial é invisível aos olhos”. Perdemos nossa vida confundindo a importância
de ser relevantes existencialmente com a importância de ganharmos nossas
medalhas e troféus, não importando o custo dos mesmos. Perdemos a nossa vida
correndo atrás do vento, perdendo tempo. Perdemos nossa vida no eterno conflito
ser/ter.
Portanto,
meu amigo, se assim como eu você é também um fracassado, bem vindo ao mundo
daqueles que enxergam que nem todo fracasso é ruim, e por isto, já não se
importam mais se aparentam serem fracassados ou não, já não se importam mais
com a imagem que possuem por terem errado, caído, enganado-se em escolhas
erradas, não esforçado o suficiente ao mesmo tempo em que tentaram fazer a
coisa certa. Não estou afirmando que todos os nossos erros são justificáveis,
estou apenas alegando que nem todas as perdas e insucessos aos nossos olhos são tão ruins
quanto pensamos.
Trago-lhes
boas novas, meus nobres perdedores: Algumas derrotas são melhores que vitórias,
e há uma beleza MUITO peculiar em algumas delas.