quarta-feira, 23 de setembro de 2015

E o que mudou?


Anos vão se passando e esta pergunta volta e meia ressurge como uma aparição fantasmagórica tentando nos assombrar e nos mostrar que grande parte de nossos planos e objetivos não se cumpriram como havíamos planejado. É bem verdade que, segundo Platão, o mundo das ideias, ao contrário do mundo sensível (material) onde tudo se encontra imperfeito em sistemática desordem, tudo nos parece muito mais brilhante, afinal, o “ideal” é exatamente a ideia que se tem de uma realidade onde tudo está em perfeita harmonia, totalmente como planejado, em perfeito equilíbrio, etc etc etc...
À primeira vista o mundo ideal parece ser bastante atrativo, já que é feito de perfeições e realizações plenas, mas é também um mundo cheio do mais puro “eu” que possa existir, sem espaços para absolutamente nada que vá de encontro ao meu desejo maior em relação ao objeto ou situação que se pretende.
A verdade é que ao enxergar o “mundo ideal” não vejo possibilidades para confrontos, decepções, frustrações, e todo tipo de “guindastes” demolidores de nossas personalidades e sonhos. Não há espaço para uma reconstrução e tudo de belo que pode vir após o temporal, pois o perfeito é inteiro em si, restando apenas um único problema: “o meu perfeito, é perfeito de fato?”.
Pensando nisto é que chego à outra pergunta: “e então, o que mudou em mim nestes últimos anos?”. Alguns fatos interessantes: Ainda não tenho absolutamente nada material do que sonhava que teria quando chegasse aos 26. Ainda não tenho minhas crises miraculosamente resolvidas pelo simples fato de que o tempo está passando. Ainda não tenho a carreira que gostaria. Ainda não sou a metade do ser humano que havia projetado que seria. Ainda não sou o cristão que sonhava ser.
Meu caro e raro leitor que com certeza reparou no claro destaque para tudo aquilo que não alcancei, e suponho que você também tenha enxergado ainda que um pouco de si em tudo isto, ainda que não nas mesmas coisas, mas pensado em tudo que ainda não atingiu. Eis algumas boas surpresas para minhas respostas referentes ao “que mudou”: Surpreendentemente encontro-me mais contente em ter não ter alcançado todas estas coisas acima. Percebo que meus altos já não são tão mais altos assim, e os baixos já não são mais tão profundos também. Vejo que todas as decepções/frustrações exercem uma influência positiva em combate ao meu lado hedônico e egoísta.
Como já havia afirmado em alguns outros textos: a utopia é boa para que através dela possamos sempre continuar caminhando em direção ao ideal, que de fato, nunca acontecerá, mas há uma beleza peculiar em tudo aquilo não alcançado, em todo esforço reconhecido e não reconhecido, em todo sorriso e lágrima que semeamos ao longo do caminho, em todos os abraços dados e passos para trás ao negar contato.

E então “o que mudou?”. Eu mudei, a vida mudou, o tempo mudou, as pessoas ao meu redor mudaram, a minha conta bancária mudou (pfff, mentira, essa continua a mesma... kkkkk). Hoje percebo que quanto mais simples eu puder ser em planejamentos, ações, comportamentos, etc, mais eu mudarei, e quanto menos me preocupar em mostrar mudanças, mais terei efetivado com sucesso tal processo.