quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Vaidade

Olhei debaixo do sol e vi
Tudo é vaidade
A busca aflita,
Espera infinita
Procurando felicidade
Amores eternos
Que findam no fim do mês
Olhares que brilham de paixão
E depois ironia descortês

Olhei debaixo do meu teto e vi
Tudo é vaidade
A pressa frenética
Da correria vendada
Que não vê que seu destino
É uma lápide bem lapidada
Por que querer tanto
Correr atrás do vento?

Olhei para dentro de mim e vi
Tudo é vaidade
Disfarces, sorrisos, apertos de mão
Quem conhecerá meu coração?
Nem eu conheço, e finjo conhecer
Sabendo que só o que irá render
É uma falsa satisfação
E mais uma representação
Parabenizando um teatro planejado
De alguém cujo equilíbrio foi roubado

Olho para tudo,
Não sei mais para onde olhar
Então percebo que alguém me olha
O Ser que soprava antes e agora
A vida eterna, finita e roubada
Restituída, perdida, encontrada
Que a eternidade em meu coração colocou
Para lembrar-me sempre de para onde vou
Quando enfim a vaidade cessar
E o vento parar de soprar
Tudo é vaidade
Menos a eternidade

Mellina Amorim

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

a.ma.du.re.cimento



Me perdoe o professor Pasquale e a tia Elizabeth do Ensino Fundamental pela nova divisão silábica. Tenho uma definição agridoce para este caminho que persegue alguns seres humanos e ignora outros.
Enquanto alguns “frutos” esbanjam sua “maturidade” aos “verdes”, tenho degustado o amargo do processo que isso exige. O tempo trouxe quedas, graça, decepções, oportunidades, pessoas, amigos, irmãos... como também levou muitos deles. Desapontamento é algo constante a todos nós (percebo uma overdose disso em mim nos últimos meses). A vida vai tomando caminhos inesperados por nós, mas esperados e designados pelo Criador. São caminhos misteriosos, cheios de pedregulhos e desertos, lugares difíceis de permanecer, lugares que clamam pela morte. Solidão, escassez, fragilidade... para mostrar que nunca estamos sós, abandonados, vencidos.
Um ar de autonomia começa a impregnar o lugar das decisões. As pressões exteriores, as expectativas de outros e a dependência do “ninho” perdem a importância e chegam a ser tratados com aversão. Os velhos valores dão lugar a filosofias de vida cada vez mais equilibradas e concretas, ensinadas pelo Mestre “no Caminho”.
Tempo de pegar pás e desenterrar sonhos soterrados pelo “velho obscuro”; crer e viver no propósito irrevogável: servir... sem olhar pra trás... sem viver em lamentos... procurando sempre dar o máximo de si.
E diante do desafio de amadurecer, vem mais um desafio: enquanto se prova o azedo da vida, manter o sorriso e estender a mão. Somos tentados, em tempos de crise, quando o “.cimento” começa a endurecer, a focarmos nosso olhar e cuidado em nós mesmos e esquecermos que existe um mundo inteiro em crise do lado de fora.

“Dêem graças em todas as circunstâncias, pois esta é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus.” (Ap. Paulo, em 1ª Tessalonicenses 5:18)

#SatisfaçãoNoEternoSempre #SobControle


Rômulo Silva

domingo, 11 de janeiro de 2015

Dizem

Dizem ser eu um jardim
Dizem existir um Jardineiro
Dizem que Ele tudo vê
Não sabem que escondo em mim um mundo inteiro

Dizem que sou doce e meiga
Dizem que sou distante e fria
Dizem que estou acima de tudo
Ou abaixo da melancolia

Já não sei mais o que dizem
E nem sei o que dizer mais
Me torturo de curiosidade
E de indiferença tenaz

Faço jus a meu apelido
De boneca bonita e oca
Não sabem os meus leitores
Que leem o diário de uma louca

                                         Mellina Amorim

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Reinventando o caminhar




Se lembrar é também viver, que lembremos somente do que nos faz olhar para frente. Que encontremos a esperança esperada ao ouvir aquela música que já fez o coração pulsar mais forte de alguma forma, e se for pra ouvir, que ouçamos mil vezes, como quando nos apaixonamos pela melodia e cantarolamos o dia inteiro, sem sair da cabeça e sem nos fazer enjoar dela.
Se esperar é também caminhar, que o esperar torne-se uma constante crescente. Que a paciência e o tempo andem de braços dados conosco como amigos que caminham pela chuva sem preocupações com resfriado, esperando apenas a chegada em casa para uma bela xícara de café e o aquecer de roupas secas.
Se nossos maiores sonhos apenas poderiam acontecer num plano “ideal”, que entendamos que a utopia nos faz dar um passo em direção a tal realidade, e por mais que andemos e a distância nunca diminua porque o passo é dado por nós em direção à utopia e pela utopia conjuntamente em repulsão, tal movimento produz a energia necessária para que não morramos na inércia da desistência.
Se tudo é feito para quebrar e ser substituído, que sejamos sensíveis ao perceber o que é necessário, para não investirmos forças e tempo no que é supérfluo. Que entendamos que as pessoas são o bem maior da criação, os tesouros que o Eterno nos permitiu o compartilhar da vida.
Se a fé é o firme fundamento das coisas que não se veem, que nosso respirar, abraçar, beijar, rir, chorar, brigar e tudo quanto fizermos, sejam apenas um reflexo do que é ser humano, que a beleza de perceber-se a si como falho seja o grande despertar para entendermos que seremos eternamente reféns da graça, laçados pelo afeto, e humilhados pela bondade dAquele que é o próprio amor.


Sinval Guerra

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Sinto saudades


Algumas coisas na vida deixam o gostinho de saudade, aquele tipo de saudade que nunca vai ser saciada, uma saudade nostálgica que não precisamente traz em si a dor da falta.
Sinto falta da época que jogava bola na rua todos os dias (descalço), chegava em casa sem um tampo do dedão e ainda apanhava por causa disso e o merthiolate ardia que só (e como ardia!!). De jogar peão, bola de gude. Sinto saudade da época em que acreditava que o velho do saco existia e essa ameaça me fazia fazer qualquer coisa que minha mãe quisesse. Sinto saudade da lenda do carro preto (aquele com as janelas, roda e tudo preto, que sequestrava as crianças), que atormentava a vida qualquer criança vivente que queria ficar na rua além do horário permitido pelos pais, mas não pegava as crianças obedientes.
Sinto falta daquelas crenças populares em que engolir chiclete grudava as tripas e por isso chorava toda vez que sem querer, o fazia. Também tem aquela famosa de que quem olha com olho torto no vento ficava vesgo pro resto da vida, ou ainda que quem comesse semente de melancia nasceria uma árvore no estômago e tomar banho de piscina chovendo gripava, sem esquecer é claro, da famosa manga com leite que era quase fatal.
Sinto falta da inocência de brigar com alguém e logo em seguida abraçar e brincar como se nunca houvesse briga, da simplicidade de soltar pipa na rua ou brincar de estilingue ou guerrinha de manga verde (as que caem do pé ainda pequenas) até machucar o outro (sem querer, claro... rsrs), saudades do tempo onde gostar de uma menina era sinônimo de querer distância dela, porque esta era a melhor forma de demonstração (tipo “os batutinhas”).

Vejo que esta saudade imensa no peito de cada pessoa é a saudade da criança que deixou de viver, ainda que não esteja morta, sucumbida pelos afazeres do dia-a-dia, e que quem sabe apreciar a falta que essas coisas fazem, sente de leve o sabor do que é aproveitar as pequenices da vida e consegue visualizar um pedacinho do reino de Deus chegando.

Mc 10:15 "Aquele que não receber o reino de Deus como uma criançanão entrará nele." 

Sinval Guerra

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

E quando as luzes se apagam?


E quando as luzes se apagam? O que fazer? Para onde ir? A quem recorrer?

E quando as luzes se apagam? Há desespero? Faltam as esperanças? O medo aparece?

E quando as luzes se apagam? Somos quem demonstramos a outros? Estamos indo na direção que desejamos? Fazemos aquilo que não podemos fazer às claras?

E quando as luzes se apagam? Temos medo de que o escuro traga o tempo necessário para enxergamos nossa verdadeira “face”? Queremos rapidamente voltar aos holofotes e nos embriagarmos de emoções vis? Percebemos que o centro das atenções é o lugar onde a falta de luzes não permite estar?

E quando as luzes se apagam? A vergonha de considerar-se incapaz diminui? A vontade de desistir da vida aumenta? A vontade de falar aquilo que de mais profundo há no nosso coração aparece em furiosa sinceridade?

E quando as luzes se apagam? Compreendo que sou aceito e me sinto humilhado pelo brilho da graça dAquele que me encontrou? Alcanço o entendimento de que minha reles justiça retributiva sempre será falha? Entendo que a única forma de ser humano de verdade é apagando as luzes?

E quando as luzes se apagam? Aos poucos vou percebendo que já não me importam mais as luzes.


I Co. 11:28 (a) “Examine-se, pois, o homem a si mesmo...”

Sinval Guerra