sábado, 27 de novembro de 2010

Ser sábio


 
            Cheguei à conclusão de que a sina de todos os poetas e pensadores é realmente andar na contramão da cultura popular, da aceitação das massas, é ser rejeitado por pensar diferente e não se importar com o fato de não reproduzir um discurso infundado que satisfaça as necessidades de seus próximos simplesmente pelo fato que as necessidades enxergadas pelos mesmos é meramente supérflua.
            Pensar e ir mais profundo é correr ao longo da margem, é ir de encontro sem a pretensão do agrado nem do convencimento para finalidades de auto-propagação. É causar impacto, mas não por simplesmente “ser do contra” e rebater tudo que lhe é lançado! O pensador procura assimilar vários pontos de vista diferentes a respeito de um assunto para depois se posicionar da forma que lhe pareça ser a mais sensata, para que a partir da reflexão, possa aceitar ou rebater o que lhe é apresentado.
            Ser sábio é saborear o gostinho inconfundível da profundidade andando na contramão inclusive do conceito de que ser sábio é dizer palavras difíceis num discurso eloqüente, é ser mais simples do que se espera! É muitas vezes calar-se diante de situações em que o debate não funcionará e ser humilde para deixar os outros pensarem que não se têm argumentos suficientes pelo motivo de que o sábio entende o momento de se calar e não lançar suas pérolas preciosas aos porcos que não entenderão e as rejeitarão.
            Ser sábio é administrar de forma coerente os tesouros dos conhecimentos adquiridos nas teorias, nas experiências próprias, e até nas experiências dos outros de modo a não deixar que nenhum destes seja mal distribuído ao longo do caminho! Ser sábio é entender que é necessário entender, não importando a área. Ser sábio é reconhecer as próprias limitações, abrindo assim, horizontes tão grandes que nos fazem parecer infinitamente menores do que se acreditamos ser em meio a imensidão das grandiosas portas à frente.

Sinval Guerra

domingo, 21 de novembro de 2010

A Noite



           Há quem veja a noite como simbologia de lutas, até mesmo a bíblia pode tratar dela desta forma: “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30:5), mas ainda isto não me convence de que quando Deus criou a noite esta era a real intenção dEle, não estou discordando da bíblia, penso que este texto foi escrito justamente para “ilustrar” exatamente o período de lutas a que me referi, mas não podemos analisar esta “noite” no sentido literal. Imaginem comigo! Poderia o nosso Senhor criar de propósito todos os dias uma escuridão para que nós humanos nos sentíssemos desprotegidos, abandonados e cheios de medo? Não acredito nesta possibilidade.
            Prefiro enxergar a noite como algo mais poético, pois é na noite onde nossos pensamentos encontram serenidade para se libertar, livrando-se de todo barulho e pressa que durante o dia nos aprisionam e insistem em nos sufocar nas chamadas “obrigações do cotidiano”.
Já repararam que a noite nos traz uma saudade do que não conseguimos descrever? Ainda que alguns pensem ser a saudade de alguma pessoa, coisa ou até de alguma época! Prefiro acreditar que este sentimento de saudade é justamente a saudade deixada do tempo em que o Criador vinha encontrar-se com Adão no entardecer. Já repararam que é na noite onde namorados apaixonados se encontram e os poetas se inspiram? (Como já disse José Barbosa Júnior).
           Enfim... falando um pouco mais de mim mesmo (e tenho certeza de que não sou o único a pensar assim), é na noite onde me encontro com a luz do luar, com a paz advinda do silêncio e do cantar dos grilos (Sim! Onde eu moro ainda existem grilos! E não! Não moro numa “roça”! rsrs), e isto me traz de volta à lucidez. Lucidez esta que me leva a refletir sobre como aprender a aprender durante os processos!
          Meio complicada esta idéia não? Nem tanto! Alguns podem achar um tanto redundante, mas faz total sentido pra mim já que é na reflexão onde enxergamos a necessidade do aprendizado, que muitas vezes precisa se dar na área do próprio aprendizado, ou seja, precisamos aprender a aprender, e isto só é possível quando pensamos a respeito das coisas que nos cercam, para que desta forma, os processos se tornem mais significativos, e não só caminhos sem sentido. É basicamente como a construção de uma casa, um tijolo de cada vez (Ausubel na teoria da aprendizagem significativa pode explicar isso melhor pra vocês!), onde o segundo tijolo depende do primeiro para que o terceiro se “case” com eles, e de forma conjunta, possuam um significado considerável.
          Talvez a noite simbolize um aviso de que não podemos correr o tempo todo, que é necessário descansar. Talvez a noite tenha sido criada por Deus justamente com o propósito da sensibilização e do reencontro do ser humano com sua insuficiência. Talvez seja na noite onde nos deparamos com a necessidade do essencial, de nos esvairmos das coisas supérfluas. Talvez na noite encontremos o silêncio que o dia não pode nos proporcionar para refletirmos. Talvez a noite nos proporcione o escuro que é necessário para nos despirmos das fantasias e dos papéis sociais representados durante o dia (grande Fukou!), é onde percebemos que somos um só, e que é impossível fingir ser o que agrada aos outros durante muito tempo. Talvez a noite seja a “dona” das possibilidades impossíveis e das impossíveis coisas que possivelmente alcançaremos. Podemos citar vários “talvezes” (rsrs), mas vamos ficar por aqui mesmo...
Bem, o que eu realmente lamento é saber que alguns limitam suas mentes e pensam na noite como um simples “estágio” do dia que simboliza as lutas, sem enxergar a beleza das estrelas que representam nosso pequeno tamanho e fragilidade, sem ver nela a poesia do Criador, sem perceber a inspiração.
Sinval Guerra

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Qual é a sua história?



Hoje, após um dia daqueles na faculdade, vi um senhor de idade sentado num paralelepípedo à beira da rua, descalço e um tanto “largado”. Na verdade há algum tempo venho o observando diariamente, em meu caminho enfadonho de volta para casa... sempre no mesmo lugar. Frente a isto, uma pergunta inquietante surgiu: “Qual é a história daquele homem?” Não que eu seja curioso ao extremo, mas esta pergunta me levou a outra pergunta ainda mais reflexiva: “Quando eu estiver naquela idade, qual será minha história?”
Bem... comecei a pensar em quais histórias eu tenho, e quais eu gostaria de ter para contar aos meus netos quando eu estiver com meus cabelos brancos e uma experiência farta de um longo caminho trilhado com erros e acertos. Foi aí que comecei a ter a certeza de que a história de cada pessoa depende exclusivamente da coragem de tentar fazer o que poucos acreditam ser possível. - E então o que seria isso? - A resposta é bem simples! VIVER!
- Mas viver? Ahh isso é simples! Eu vivo! Tenho meus compromissos, projetos de futuro, e uma vida social, de que mais eu preciso? – Podemos então questionar: “Isto é viver?” Sim, claro! Mas não somente isto!
Quando menciono viver, me refiro ao que o grande compositor Gonzaguinha se referia quando dizia: “Viver! E não ter a vergonha de ser feliz”. Daí podem surgir outras indagações – Mas quem tem vergonha de ser feliz? Essa música é ultrapassada! – E é justamente aí que alguns se enganam por pensarem que passar pela vida é a mesma coisa de deixar que a vida passe por você, é então no equilíbrio destes dois acontecimentos, como que por osmose, que adquirimos os conhecimentos necessários para saber o que é, e que não nos é lícito. É óbvio que isto varia de pessoa para pessoa, já que com suas individualidades, alguns acabam superestimando ou subestimando coisas diversas que deveriam (ou não) ter alguma importância.
Mas não é com esta finalidade que escrevo, afinal esta infinita diversidade humana é o que nos faz ser únicos! Não somente no estereótipo, mas no tipo de personalidade, expressão de idéias e seletividade de prioris.
Podemos então afirmar que só vive quem tem a coragem de tentar! Não estou querendo ser empirista (seguindo a teoria de John Lock) e afirmar que todo tipo de conhecimento só é adquirido pela experiência, mas estou querendo dizer que é necessário se permitir! E isto de fato, implica em “quebrar a cara” algumas vezes, nada que o tempo não cure ou que você não consiga se reerguer, porém, é melhor que se pense que todo seu potencial foi dirigido para uma tentativa, ainda que frustrada, do que aquela velha pergunta que atormenta a muitos: “E se eu tivesse tentado?” esta cruel dúvida pode acompanhar alguns pelo resto de suas vidas, porque algumas oportunidades são literalmente únicas, e cada escolha nos leva a um caminho que talvez não tenha volta, existe sim um conserto, mas nunca uma volta.
E se você pudesse encontrar um caminho pra voltar ao início dos seus erros? Consertaria tudo? Haveriam novos caminhos e com certeza você não seria o que você é hoje, e isto inclui aspectos bons e ruins em seu julgamento reflexivo moral, mas podemos ter a certeza de que se não somos hoje o que sonhamos ontem, podemos começar a sonhar e agir hoje, para que amanhã nos tornemos o que admiramos hoje, e depois de amanhã coisas novas surgirão, e assim nosso processo evolutivo é constante.
Por fim, ainda creio na velha e simples forma de valorizar as coisas “pequenas” da vida. Mas espere aí, se estas coisas são pequenas porque são tão importantes? Não creio em coisas “pequenas” de grande importância, isto é um tanto contraditório. Na verdade, estas “pequenas” coisas as quais me refiro são coisas APARENTEMENTE pequenas! E por quê? Pelo simples fato de que algumas pessoas não acharão grande importância nestas, porém a partir do momento que as valorizamos, elas se tornam grandes o suficiente para serem talvez até imortalizadas, ou parte orgânica do nosso ser, e digo isto sem medo de estar sendo hiperbólico, afinal quem não se lembra: “daquele dia em que saímos com os amigos e não vimos a hora passar, mas já era quase de manhã!”, “quando me ligaram dizendo - Se arrume em 10 minutos, porque daqui a pouco passo aí pra gente viajar- ” ou ainda “quando fomos pra o ponto de sempre, após um culto dominical abençoado tomar uma coca-cola e jogar conversa fora”.
Aposto que nenhum leitor deste texto lembra-se das milhares de aulas que já assistiu, mas aquela em específico que filou por um “propósito maior” ficou marcada em sua memória. Lembra-se também daquele domingo em que você foi tomar um sorvete ao fim da tarde contemplando a beleza do céu alaranjado e sentindo a brisa suave no seu rosto tendo a certeza que vida realmente é boa? Quem nunca sentiu pelo menos alguma destas coisas?
É disto que estou falando, e mais! Impossível expressar o que realmente é viver num só texto, mas fica aqui uma pergunta: “Qual é a sua história?” E se quando você olha pra trás não gosta do que vê, não fique preocupado! Sempre existe a esperança de que se comece hoje a construir a história que você quer contar amanhã!
Sinval Guerra