Hoje, após um dia daqueles na faculdade, vi um senhor de idade sentado num paralelepípedo à beira da rua, descalço e um tanto “largado”. Na verdade há algum tempo venho o observando diariamente, em meu caminho enfadonho de volta para casa... sempre no mesmo lugar. Frente a isto, uma pergunta inquietante surgiu: “Qual é a história daquele homem?” Não que eu seja curioso ao extremo, mas esta pergunta me levou a outra pergunta ainda mais reflexiva: “Quando eu estiver naquela idade, qual será minha história?”
Bem... comecei a pensar em quais histórias eu tenho, e quais eu gostaria de ter para contar aos meus netos quando eu estiver com meus cabelos brancos e uma experiência farta de um longo caminho trilhado com erros e acertos. Foi aí que comecei a ter a certeza de que a história de cada pessoa depende exclusivamente da coragem de tentar fazer o que poucos acreditam ser possível. - E então o que seria isso? - A resposta é bem simples! VIVER!
- Mas viver? Ahh isso é simples! Eu vivo! Tenho meus compromissos, projetos de futuro, e uma vida social, de que mais eu preciso? – Podemos então questionar: “Isto é viver?” Sim, claro! Mas não somente isto!
Quando menciono viver, me refiro ao que o grande compositor Gonzaguinha se referia quando dizia: “Viver! E não ter a vergonha de ser feliz”. Daí podem surgir outras indagações – Mas quem tem vergonha de ser feliz? Essa música é ultrapassada! – E é justamente aí que alguns se enganam por pensarem que passar pela vida é a mesma coisa de deixar que a vida passe por você, é então no equilíbrio destes dois acontecimentos, como que por osmose, que adquirimos os conhecimentos necessários para saber o que é, e que não nos é lícito. É óbvio que isto varia de pessoa para pessoa, já que com suas individualidades, alguns acabam superestimando ou subestimando coisas diversas que deveriam (ou não) ter alguma importância.
Mas não é com esta finalidade que escrevo, afinal esta infinita diversidade humana é o que nos faz ser únicos! Não somente no estereótipo, mas no tipo de personalidade, expressão de idéias e seletividade de prioris.
Podemos então afirmar que só vive quem tem a coragem de tentar! Não estou querendo ser empirista (seguindo a teoria de John Lock) e afirmar que todo tipo de conhecimento só é adquirido pela experiência, mas estou querendo dizer que é necessário se permitir! E isto de fato, implica em “quebrar a cara” algumas vezes, nada que o tempo não cure ou que você não consiga se reerguer, porém, é melhor que se pense que todo seu potencial foi dirigido para uma tentativa, ainda que frustrada, do que aquela velha pergunta que atormenta a muitos: “E se eu tivesse tentado?” esta cruel dúvida pode acompanhar alguns pelo resto de suas vidas, porque algumas oportunidades são literalmente únicas, e cada escolha nos leva a um caminho que talvez não tenha volta, existe sim um conserto, mas nunca uma volta.
E se você pudesse encontrar um caminho pra voltar ao início dos seus erros? Consertaria tudo? Haveriam novos caminhos e com certeza você não seria o que você é hoje, e isto inclui aspectos bons e ruins em seu julgamento reflexivo moral, mas podemos ter a certeza de que se não somos hoje o que sonhamos ontem, podemos começar a sonhar e agir hoje, para que amanhã nos tornemos o que admiramos hoje, e depois de amanhã coisas novas surgirão, e assim nosso processo evolutivo é constante.
Por fim, ainda creio na velha e simples forma de valorizar as coisas “pequenas” da vida. Mas espere aí, se estas coisas são pequenas porque são tão importantes? Não creio em coisas “pequenas” de grande importância, isto é um tanto contraditório. Na verdade, estas “pequenas” coisas as quais me refiro são coisas APARENTEMENTE pequenas! E por quê? Pelo simples fato de que algumas pessoas não acharão grande importância nestas, porém a partir do momento que as valorizamos, elas se tornam grandes o suficiente para serem talvez até imortalizadas, ou parte orgânica do nosso ser, e digo isto sem medo de estar sendo hiperbólico, afinal quem não se lembra: “daquele dia em que saímos com os amigos e não vimos a hora passar, mas já era quase de manhã!”, “quando me ligaram dizendo - Se arrume em 10 minutos, porque daqui a pouco passo aí pra gente viajar- ” ou ainda “quando fomos pra o ponto de sempre, após um culto dominical abençoado tomar uma coca-cola e jogar conversa fora”.
Aposto que nenhum leitor deste texto lembra-se das milhares de aulas que já assistiu, mas aquela em específico que filou por um “propósito maior” ficou marcada em sua memória. Lembra-se também daquele domingo em que você foi tomar um sorvete ao fim da tarde contemplando a beleza do céu alaranjado e sentindo a brisa suave no seu rosto tendo a certeza que vida realmente é boa? Quem nunca sentiu pelo menos alguma destas coisas?
É disto que estou falando, e mais! Impossível expressar o que realmente é viver num só texto, mas fica aqui uma pergunta: “Qual é a sua história?” E se quando você olha pra trás não gosta do que vê, não fique preocupado! Sempre existe a esperança de que se comece hoje a construir a história que você quer contar amanhã!
Sinval Guerra